Você já pensou nas palavras que diz e escuta todos os dias?
É sempre útil pensar sobre isso, pois, entre nós e nossas metas estão as palavras.
Aprender a manejá-las, portanto, pode poupar caminho no percurso que nos levará aonde precisamos chegar. É fato. O homem não prescinde do uso de palavras. Ditas, escritas ou representadas por sinais e gestos, elas nos pronunciam diante do mundo e nos incluem no jogo de influências indispensável às trocas humanas.
Incontáveis vezes, escutamos o seguinte pedido: ‘Por favor, me deixa vender meu peixe?’. A razão dessa frequência é que em toda fala há certo nível de negociação, pois trocando verbos firmamos posições que identificam a nós e a nossos projetos. Pesquisando a Mitologia, a história das religiões e das guerras e olhando o caminhar da Ciência, é possível perceber que o homem sempre viu nas palavras uma fonte de poder. Sua força definidora e, às vezes irreversível, pode ser ilustrada pelo provérbio: ‘A flecha lançada e a palavra dita jamais voltam atrás’.
Nos passes de mágica (‘abracadabra’), nos rituais que dão capacidades notáveis a super-heróis (‘Shazam’) ou na ação devastadora de seres míticos (‘Decifra-me ou te devoro’) há sempre alguma expressão propiciadora de poderes a quem a pronuncia.
Um exemplo fácil de lembrar é o da expressão ‘Abre-te Sésamo’. Bastava dizê-la para ter acesso à caverna com os tesouros de Ali Babá e seus ladrões. No caso, um simples jogo de palavras propiciava bens incalculáveis.
É certo que a história das Mil e Uma Noites é apenas uma metáfora criativa traduzindo a fantasia humana de, sem esforço, auferir fortuna de forma imediata.
É certo que a história das Mil e Uma Noites é apenas uma metáfora criativa traduzindo a fantasia humana de, sem esforço, auferir fortuna de forma imediata.
Será que não precisamos achar palavras nas horas exatas para acessar tesouros, conquistar pessoas e ultrapassar obstáculos? Imagine dizer palavras que no momento certeiro vão: abrir espaço no coração do ser amado; virar o jogo da vida profissional; dar acesso aos tesouros da amizade.
Para conseguir isso é preciso expressar-se com a consciência de que palavras são recursos com forma, gosto, cor, textura e brilho.
Elas entregam afetos, confessam intenções, gritam dores, firmam vontades, exprimem felicidade, berram revoltas, articulam ideias, rezam orações, vociferam pragas e professam lições.
Elas entregam afetos, confessam intenções, gritam dores, firmam vontades, exprimem felicidade, berram revoltas, articulam ideias, rezam orações, vociferam pragas e professam lições.
Em suma, elas atraem ou afastam e até expulsam. É comum ouvir queixas como: ‘Fulano foi tão seco’!; ‘Fulana me fuzilou tanto com palavras que eu até desisti de escutá-la’.
Contudo, é possível cuidar das palavras para que a fala seja como uma harpa soprando suave, mas de forma atraente e tocante. Sigmund Freud, o criador da Psicanálise, atribuiu poder terapêutico às palavras. Ele dizia que elas operam uma mágica na vida diária. Para ele, no início da história humana, emitíamos sons para atrair parceiros sexuais, mas a fala foi ocupando cada vez mais espaço na vida, principalmente no amor e no trabalho.
O método terapêutico do célebre psicanalista é chamado de Associação Livre, por liberar a fala do paciente para nela buscar – nos trajetos que a palavra faz – o caminho da cura.
Mas, saindo do divã e voltando à pragmática diária da comunicação, talvez descubramos que o fator de sucesso da comunicação não seja somente as palavras em si, mas onde, quando e porque usá-las.
Você já deve ter ouvido alguém dizer que não adianta pregar no deserto. De fato. Para sermos ouvidos e construirmos entendimento é preciso aproximar-se e contextualizar-se. Tomar a dianteira e jogar conversa em terreno desconhecido não é um bom começo.
Dispensável dizer que tentativas impulsivas ou desleixadas de aproximação tendem a gerar aversão logo na primeira troca de ideias. A comunicação contextualizada evita antipatias, minimiza rejeições e permite antecipar reações que provocará.
Dispensável dizer que tentativas impulsivas ou desleixadas de aproximação tendem a gerar aversão logo na primeira troca de ideias. A comunicação contextualizada evita antipatias, minimiza rejeições e permite antecipar reações que provocará.
Além de contextualizar-se é essencial criar atmosfera amigável e favorável ao esforço de compreensão. Como? Falar de forma cuidadosa. Eliminar palavras ríspidas ou negativas. Sentir a própria linguagem corporal.
Nem sempre percebemos, mas, falar é transmitir mais que palavras. Além da boca, o olhar, os gestos e o tom de voz e até o silêncio passam mensagens que precisam estar alinhadas para fortalecer o discurso, caso contrário, irão enfraquecê-lo e até negá-lo.
Não se espante pela inclusão do silêncio entre os elementos da comunicação.
Não se espante pela inclusão do silêncio entre os elementos da comunicação.
Assim como a música é a união da harmonia sonora com o silêncio, o bom discurso resulta da associação do falar e do silêncio que permite a escuta e a reflexão.
O bom interlocutor aprecia o uso milagroso do silêncio. Então, saiba silenciar no momento preciso, fazer pausas (os professores habilidosos sabem disso) e suas palavras serão ainda mais valorizadas.
Falamos para sermos ouvidos, para influenciar o outro e nada atrai mais um interlocutor do que um bom ouvinte.
E o bom interlocutor é o que sabe falar e escutar silenciosamente no tempo propício.
E o bom interlocutor é o que sabe falar e escutar silenciosamente no tempo propício.
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