Vagabunda, virgem, dominadora, cafajeste, menino inocente, garanhão. Deveria existir um contrato tácito de que na cama vale tudo o que a imaginação mandar e o outro consentir. O que acontece entre quatro paredes fica por lá, não pode influenciar a vida além daquele universo. Também deveria se manter fora desse lugar o preconceito, o medo de se expor e ser julgado. Porém do lado de dentro é importante que permaneça a liberdade de ser quem a gente quiser naquele momento, sem amarras.
Se na hora der vontade de incluir alguém imaginário na transa, isso não significa necessariamente que a pessoa quer fazer sexo com outro, apenas que se excita com aquela situação naquele momento. Não dá pra ficar depois discutindo coisas que foram faladas no calor do tesão. A vadia pode virar uma respeitável senhora fora da cama, o cachorrão talvez seja um pacato bancário. É impossível imaginar como cada um se comporta (ou, melhor ainda, não se comporta) na hora do sexo. Entre quatro paredes deveria existir sempre uma licença para encarnar o personagem que mais der prazer sem receio das consequências. A diversão precisa ser ilimitada, a não ser pelo desejo do outro.
Não vale olhar torto depois que as luzes se acenderem, que as roupas forem colocadas. Não vale questionar a fantasia alheia, a não ser se for para continuar botando lenha nesse fogo. Conheço muita gente que adoraria dar mais asas aos seus desejos, às suas fantasias, mas fica com medo da reação do outro. Assim a brincadeira não é completa. O gostoso é poder soltar as nossas feras à vontade, curtir um role playing game (RPG) sexual sem culpas, sem julgar ou ser julgado.
A dificuldade não está apenas em enfrentar o olhar do outro, mas em lidar com a própria autocensura. Conforme crescemos, vamos deixando de lado o mundo das fantasias para entrar no universo sério dos adultos e desaprendemos a brincar. Paramos de fantasiar, inventar e criar histórias e personagens, que na cama poderiam potencializar muito o desejo e ajudar a fugir um pouquinho da realidade previsível só para variar.
Temos medo de dar vazão às nossas loucuras, de parecermos ridículos. O temor não é infundado, a linha que separa o excitante do grotesco é mesmo tênue e, para complicar, diferente para cada um. Acredito que o melhor caminho para se divertir no mundo das fantasias sem traumas, para criar um RPG sexual que funcione, é começar pela preparação do terreno, ir brincando com a ideia, quem sabe trocando mensagens sobre o tema, para não pegar o outro totalmente desprevenido. Um salto quântico de menina comportada para dominatrix com chicote na mão pode assustar demais o cara. De namorado carinhoso para cafetão em poucos segundos, também talvez seja uma mudança um pouco brusca. Claro que não funciona da mesma forma para todo mundo, generalizações são sempre reducionistas, certamente existe a turma daqueles que reagem bem a surpresas e se excitam com as novidades, inclusive as inesperadas. O importante é sempre deixar o botão da sensibilidade ligado.
Na vida de casal, dividir fantasias, explorar desejos e embarcar junto na pira do outro ajudam a criar praticamente um universo particular. O casal vira cúmplice na sacanagem e fica com aquela sensação gostosa de compartilhar um segredo, de conhecer um mundo que ninguém mais vê. É um privilégio viver nossas insanidades gostosas a dois.
Deixe a vergonha do outro lado da porta, aproveite a chance de ser quem você quiser entre quatro paredes, faça orgias e ménages imaginários ou o que você tiver vontade, não limite o seu prazer nem a sua imaginação. Arrisque criar uma situação nova, um personagem excitante, um vocabulário diferente. Reaprenda a brincar. Só não vale estragar a brincadeira com recriminações e censuras. Goze e deixe gozar.
E você, curte um RPG na cama?
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