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    quinta-feira, 20 de agosto de 2020

    “Catástrofe de informação”: O conteúdo digital poderá alcançar metade da massa da Terra

    Desde a descoberta do primeiro transístor e do circuito integrado, uns anos depois, a sociedade assistiu a enormes desenvolvimentos tecnológicos. Além de tecnologia sem fios, Internet, Inteligência Artificial, armazenamento de conteúdos digitais, entre outros, ainda registou uma muito positiva evolução no campo da medicina, das comunicações e dos transportes, por exemplo.
    É inegável a importância da tecnologia no mundo moderno. Assim, se o conteúdo digital mantiver o crescimento registado até agora, o mundo estará perante uma catástrofe de informação.

    A saturação do conteúdo digital

    No mundo moderno, a tecnologia só consegue desempenhar o papel preponderante que desempenha, porque o ser humano foi capaz de criar e dominar o armazenamento de grandes quantidades de dados. Assim, o conteúdo digital é, sem dúvida, o pilar de muitas das maiores empresas tecnológicas do mundo.

    Conforme revela uma nova investigação, o mundo atingirá um ponto singular do máximo de informação digital que pode ser criada e o potencial do planeta para a sustentar. Esta catástrofe de informação acontecerá, se as tendências atuais de crescimento do conteúdo digital se perpetuarem.
    De acordo com a International Business Machines Corporation (IBM), a atual taxa de conteúdo digital é de 2,5 quintilhões de bytes, por dia. Pese o facto de 1 byte corresponder a 8 bits de conteúdo digital. Assim, o número de bits a conter informação digital será igual ao número de átomos na Terra, daqui a 150 anos.
    Ademais, em 2245, estima-se que o conteúdo digital alcance metade da massa da Terra.

    Uma estimativa de produção de conteúdo digital interessante

    Estas conclusões foram tiradas por Melvin Vopson, um cientista que estudou a densidade de armazenamento de dados atual, o número de bits produzidos por ano e o tamanho de um bit comparado com a dimensão de um átomo. Posto isto, as conclusões foram tiradas, assumindo uma “taxa de crescimento realista” de 5%, 20% e 50%. Ou seja, respetivamente, o número de bits corresponderá ao número de átomos da Terra em aproximadamente 1200, 340 e 150 anos.
    Contudo, Vopson relembra que o crescimento do conteúdo digital está estreitamente relacionado a fatores como o crescimento da população e um maior acesso a tecnologias nos países em desenvolvimento. Se, eventualmente, algum destes fatores se inverter ou se saturar, pode alterar a estimativa do cientista. Isto, porque foi seguido o padrão atual.

    A eletricidade no processo de armazenamento de dados

    Ainda que pensar em 2,5 quintilhões de bytes produzidos por dia possa parecer quase inconcebível, eles são armazenados e é necessário prever as limitações do alcance do conteúdo digital.
    Assim, Andrae e Edler, da Huawei Technologies Sweden, publicaram recentemente uma estimativa da utilização global de eletricidade que pode ser associada a dispositivos de consumo, redes de comunicação e centros de dados, entre 2010 e 2030. O resultado mostrou que as tecnologias de comunicação poderiam utilizar 51% da eletricidade global, até 2030.
    Assim sendo, os cientistas estimaram as necessidades energéticas para sustentar a produção anual de informação, concluindo que a atual taxa de crescimento é insustentável. Ademais, futuramente, a produção de conteúdo digital terá de ser limitada, pelas restrições de potência planetária. Uma outra solução é desfazer o conteúdo desatualizado, a fim de libertar o espaço necessário para o conteúdo relevante.

    “It from bit”: Informação como a forma mais dominante de matéria

    O físico John Archibald Wheeler considerou que o Universo é composto por três partes: partículas, campos e informação. Além de outras formulações originais, Wheeler propôs que toda a física fosse reformulada pelos termos da teoria da informação.
    Em 1989, entregou um artigo onde afirmava que o Universo proveio da informação e citou a frase “It from bit”.  Aliás, foi proposto que a informação não é apenas a quinta forma de matéria, juntamente com o sólido, líquido, gasoso e plasma, mas a forma dominante de matéria no Universo.
    Assim, os cientistas estimam que o crescimento da produção de conteúdo digital atinja um ponto singular quando houver mais bits do que átomos no planeta. Ademais, a catástrofe de informação levanta, ainda, problemas éticos e ambientais, existindo já o conceito de “infosfera”, por se prever que vá consumir grande parte da capacidade do planeta.

    Melvin Vopson termina, assumindo que, se as limitações do planeta fossem resolvidas, poder-se-ia prever um mundo maioritariamente computorizado e dominado por bits e códigos informáticos.

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