[Contém Spoiler da primeira temporada para quem nunca viu]
Algum de vocês já parou para refletir sobre o que há por trás de toda esta ficção de Stranger Things? Pois eu achei que foi a melhor exemplificação para o que seria a ansiedade e depressão em suas versões mais latentes.
Na primeira temporada a mãe de Will fica procurando-o dentro de casa. Tentando se comunicar através de sinais, buscando dentro da parede. Ela sabe que ele está ali, mas não consegue se comunicar. É o mesmo que acontece quando um adolescente entra em depressão, já notaram? Ou qualquer pessoa, mas nesse caso me refiro aos adolescentes porque a série possui esse elenco e também porque os adolescentes possuem mais dificuldade em externalizar o que sentem.
Depois, a série se desenrola na busca por Will, que está em um lugar obscuro, sendo tomado por raízes que o embrulham e vão tirando sua força, energia, até que possa morrer. O que seria isso senão a queda de energia causada pela própria sensação de depressão?
Ao longo da série também começamos a ver o tal do "mundo invertido", onde o personagem está entre os seus amigos e, de repente, sua mente entra no modo obscuro, que recebe este nome de invertido. É o perfeito retrato de uma crise de pânico, que chega do nada, quando estamos tentando lidar com estas raízes de depressão e ansiedade dia a dia que nos consomem pelos bastidores enquanto tentamos levar uma vida normal. Assim, estamos lá, vivendo normalmente entre as pessoas e, do nada, não conseguimos mais lidar com a péssima sensação que nos habita bem lá no interior, aqueles medos excessivos e, do nada, no meio de um shopping, nos divertindo, o mundo se torna invertido. Quem já teve esta sensação, de desenvolver um pânico no meio de pessoas e situações comuns, sabe muito bem como é sentir o mundo totalmente estranho, o mesmo mundo real iluminado e divertido que todos conhecem, mas que na mente da pessoa adoecida, ganha uma característica pesada, meio dark não é?
E o que seria aquele super monstro enorme preto que cresce pelo céu? O medo. Quando deixamos o medo crescer, ele parece que vai dominando e se torna enorme não é mesmo?
É o perfeito retrato do que seria uma crise de pânico.
Por fim, na primeira temporada, conseguem resgatar o Will, mas quando ele vai ao banheiro, o vermezinho sai de sua boca, mostrando que ele ainda está contaminado. Não seria isso dizer que, mesmo que pareça que está tudo bem, uma vez que uma pessoa tem depressão, mesmo que ela pareça ok, o problema continua ali dentro?
Will passa por problemas dentro de casa, tenta levar um infância normal, mas convive com uma mãe problemática e sem a presença do pai, problemas que claramente afetam a vida de adolescentes.
E assim, ele "some" mesmo com sua mãe sabendo que ele está por perto.
Ele tenta se comunicar percebem? Mas são sinais, não são claros. As pessoas têm dificuldade de entender o que uma pessoa com depressão quer dizer, tentam acesso, mas não conseguem, mesmo que a pessoa tente se comunicar, mesmo estando ali.
Já a personagem Barbara Holland, morre. Como simbolizando aquelas pessoas que não conseguem lutar contra as forças que sugam a energia da pessoa deprimida. Barb não conseguia lidar com a popularidade de sua amiga Nancy e nem com questões de auto estima relacionadas a todo este cenário da adolescência, as pressões por popularidade, beleza e namorados.
A partir daí, seus amigos entram numa luta para tentar desvendar mistérios relacionados a isto, desenvolve-se uma história super legal e interessante, com lindos cenários e fotografia. Notem que outros personagens são pegos ou infectados pelos monstros, o que mostra que qualquer um pode ser vítima da ansiedade e depressão...
A questão da série é muito clara para alguém que já passou por qualquer cenário obscuro mental.
Nossas mentes podem se tornar nossas piores inimigas, e a série trata disso de forma bastante fictícia e com grande entretenimento, com atores lindos e carismáticos, além de um excelente cenário dos anos 70. É aclamada por muitas pessoas, mas que talvez não tenham observado as possíveis mensagens nas entrelinhas.
Pode ser que esta observação para "além do que é OBVIOUS", não seja a real intenção dos criadores da série, assim como os poemas de Carlos Drummond sobre a "pedra no caminho" também já ganharam interpretações erradas, mas esta seria uma boa interpretação para as questões analisadas aqui por este texto, não acham?
Digam aí, esta interpretação faz algum sentido para vocês?
Bem, caso alguém sinta isso, externalizar e procurar ajuda profissional é essencial. E, palavras de quem já viveu isso: Passa.
Tudo na vida passa. O que importa é continuar seguindo os sonhos e não deixar essas raízes gosmentas pegarem a gente. Aprender a controlar a mente é essencial para não se tornar vítima dela. Ou, de nós mesmos. A vida nos impõe obstáculos. A todos nós. Todos sentiremos essa fraqueza ou falta de sentido em determinado momento. Alguns na adolescência, outros após um divórcio, uma perda, uma morte, uma doença.
A diferença é como lidamos com eles. E buscar ajuda e não se deixar consumir é essencial para uma vida melhor. Todos nós estamos suscetíveis a cair em momentos difíceis. Mas passa, tudo passa.
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