SEXUALIDADE HUMANA
* A sexualidade é uma das condições básicas nas quais se encontra instalada a existência pessoal. Causa, conseqüentemente, um âmbito peculiar de atuação no qual se realiza o desígnio vocacional de cada pessoa.
* A sexualidade é uma das condições básicas nas quais se encontra instalada a existência pessoal. Causa, conseqüentemente, um âmbito peculiar de atuação no qual se realiza o desígnio vocacional de cada pessoa.
Dimensões da sexualidade humana
* A sexualidade humana possui diversas dimensões, tão complexas como a própria pessoa humana. Provavelmente, a mais notável distorção da no que diz respeito à compreensão e vivência da sexualidade, nos dias de hoje, seja o reducionismo, isto é, a redução da sexualidade à uma única dimensão, qual seja, a biológica. E, em muitos casos, a redução da redução: a concepção da sexualidade na mera dimensão biológica-genital ou gonádica (órgãos sexuais). Ora, tal dimensão existe e é importante, mas não ocupa (se ocupa) todo o tempo da vida. É necessário atentar e tomar consciência de todas as dimensões da sexualidade, que são:
* cromossômico (determinação genética do sexo): A fórmula cromossômica (celular) difere conforme o sexo. Homem: 44A+XY; Mulher: 44A+XX.
* gonádico: refere-se à formação das gônadas, das vias genitais e dos órgãos genitais externos.
* hormonal: diz respeito à produção de hormônios e o conseqüente aparecimento dos caracteres sexuais secundários (exercido pelas glândulas endócrinas - supra-renal, epífisis e tireóide). Por exemplo, as formas corporais, a barba, o pomo-de-adão e a musculatura no indivíduo masculino, etc.
Sexo psicológico:
* O comportamento sexual humano é governado por três dinamismos básicos da sexualidade humana é comandado pelas regiões elevadas do córtex cerebral. Desde a imagem da própria sexualidade até o comportamento sexual é a mente que comanda. O órgão principal da sexualidade humana é o cérebro (Marc Oraison). A sexualidade humana é, pois, um fenômeno psíquico.
* Temos ainda a dimensão sócio-cultural, enquanto forma de expressão social da masculinidade e feminilidade - duas formas de ser e de agir humanos, e a dimensão existencial, na medida em que, pela sexualidade, se abre a porta de comunicação interpessoal, é a forma pela qual percebemos o outro e é o lugar de vivência da vida e da morte. É a expressão da própria vida e consciência da morte (a necessária perpetuação da espécie, dada nossa mortalidade individual).
* Sexo é comunicação, é linguagem, é diálogo intersubjetivo, é o reconhecimento do outro, é alteridade. É palavra (sinal) que diz verdade ou mentira, amor ou apropriação do corpo, dominação e apropriação do outro ou doação mútua. A sexualidade revela o homem como desejo do outro, criando a alegria de viver. E a sexualidade não existe porque o ser humano possui órgãos genitais. Ele existe porque o ser humano é um ser sexuado como um todo, tanto corpórea como psiquicamente. A sexualidade é uma atmosfera dentro da qual os seres humanos vivem e, por isso, possuem órgãos genitais. Nesse sentido ela é uma das maneiras através da qual o ser humano se expressa, como ser racional consciente, livre e corpóreo. Mas ela revela sobretudo a afetividade humana, mundo onde o ser humano se realiza ou se frustra enquanto tal. Ela se situa na esfera do amor que é sempre uma esfera sexuada.
Os três dinamismos básicos da sexualidade humana
* A sexualidade humana, enquanto força da pessoa, abre-se em três dinamismos ou bases fundamentais. Um primeiro dinamismo orienta-se para conseguir a maturidade e a integração pessoal; a sexualidade é uma força para a construção do eu; é esta sua primeira base. O segundo dinamismo tende a realizar a abertura da pessoa ao mundo do tu; a sexualidade é que possibilita a relação interpessoal que culmina na construção de um projeto de vida; neste último sentido, a sexualidade serve para levar a feliz resultado uma situação ou projeto vital: celibato, matrimônio, virgindade ou viuvez. O terceiro dinamismo da sexualidade é a abertura ao nós; trata-se do campo social da sexualidade que serve para construir o nós dentro de um clima de relações interpessoais cruzadas.
* O comportamento sexual, enquanto agir moral deve conseguir essas três orientações básicas. O positivo ou negativo da moral sexual concreta pode-se ver dentro deste tríplice esquema:
* dever moral de integração do EU,
* dever moral de abertura ao TU,
* dever moral de construção de um NÓS.
* Estas são as três ações do homem enquanto ser sexual. As falhas e os acertos no campo da sexualidade devem ser avaliados dentro destes critérios.
* O princípio fundamental de todo relacionamento humano (sexual também) é o de SUJEITO para SUJEITO (O ser humano nunca deve ser tido e tratado como OBJETO). Portanto, é imprescindível o respeito ao corpo e ao espírito (sentimentos).
A "revolução" sexual
* O determinante mais significativo da chamada "revolução sexual" dos nossos dias foi o advento dos contraceptivos. Sexo e procriação estavam necessariamente associados. Com os contraceptivos, tornou-se possível "fazer sexo" sem procriar. Este fato fundamental haveria de alterar profundamente a própria visão da sexualidade, com inúmeras e imprevisíveis conseqüências, positivas e negativas em termos de realização da sexualidade humana. Eis alguns aspectos extremamente negativos daí advindos:
* - a sexualidade ganhou extensão mas perdeu qualidade: a "sexualidade de consumo" vai dirigida ao homem-massa;
* - operou-se uma dissociação nos valores da sexualidade: éros x ágape ( sexo e amor - dissociados). Existe na configuração atual da sexualidade uma hipergenitalização que não corresponde à evolução normal e que denota uma regressão e fixação a uma etapa infantil ou pré-adolescente (segundo o pensamento de Freud...);
* - como o predominante na sexualidade massificada atual é o quantitativo, segue-se a necessidade de um aumento contínuado nos estímulos sensoriais. O umbral de excitabilidade variou; é preciso aumentar a quantidade de estímulos para provocar a mesma reação. Este é o processo necessário a que conduz uma sexualidade talhada no estilo de sexualidade-consumo e baseada excessivamente no aspecto "signo", de cunho mais sensorial (na base do reflexo condicionado de Pavlov...);
* - reduziu-se muito a sexualidade ao ANONIMATO: não interessa tanto a pessoa, mas as "coisas" da pessoa;
* - através desta "onda de sexualidade" esconde-se a profunda problemática humana que hoje afeta tantas pessoas: uma sexualidade reprimida ou imatura e sobrecompensada na maior parte das vezes. Em muitas ocasiões a sexualidade, em lugar de ser um serviço para a edificação da pessoa, é empregada para realizar uma "alienação" pessoal. O homem contemporâneo aliena-se de muitos modos: a sexualidade é uma das formas mais generalizadas desta alienação;
* - enfim, pela manipulação econômica da sexualidade, gerou-se um consumo de bens supérfluos, de luxo, modas etc. nos moldes da mesma exploração ocorrida através da repressão sexual, no passado (ver as origens da repressão sexual a partir da instituição positiva propriedade privada e suas conseqüências.
* A EDUCAÇÃO SEXUAL, em que pesem as necessárias informações e orientações sobre os mecanismos da sexualidade humana, deve ter como prioridade maior a educação da afetividade, a busca do desenvolvimento e da maturidade afetiva, que se dá através do relacionamento humano sadio e que começa já na primeira infância ("a criança é pai do homem", dizia Freud).
FAMÍLIA
* A família é uma comunidade de amor, com base na união entre um homem e uma mulher e seus filhos. O amor conjugal significa uma doação mútua, total e exclusiva, em termos de dedicação, sacrifícios, conquistas e alegrias contínuas. O primeiro direito que os filhos têm é que os pais se amem, criando uma cobertura afetiva sobre os mesmos e tendo como resposta o amor filial e o amor fraterno.
* Daí surge a segurança para os membros da família, através da afetividade, que existencialmente é um dos elementos mais importantes para o equilíbrio da personalidade. Tendo por base o amor e a segurança, surgem personalidades fortes, marcantes, destemidas, sem serem agressivas ou rígidas.
* Nesse clima, torna-se fácil a família ser um lugar ideal para o diálogo entre as gerações, pois haverá o relacionamento afetivo, o mútuo respeito e a consideração pelo outro como pessoa importante para a vida de todos.
* Ao mesmo tempo na família ocorre a transmissão de valores materiais, culturais, morais, religiosos e outros, não tanto pelo ensino, mas muito mais pela vivência. Assim se intensifica o processo da educação para a liberdade e responsabilidade, criando condições para escolhas dos melhores meios para a realização da própria pessoa, e, finalmente, o indivíduo tem uma retaguarda mais firme para introduzir-se nos vários setores da sociedade como escola, trabalho, lazer, religião, etc.
* Na família atual, está ocorrendo uma saudável evolução na forma de exercer a autoridade. Antigamente era preceito (mandava-se), pressão (obrigava-se) e punição (castigava-se). Hoje a chefia tende a se exercer mais através da competência, da comunicabilidade e da capacidade de diálogo, despindo-se do autoritarismo. Assim, na família, os pais não são mais donos absolutos da verdade que é imposta rigidamente sobre os filhos, especialmente com ameaças. A autoridade dos pais sobre os filhos se impõe por si, na medida em que procuram criar um ambiente de respeito e de busca de autenticidade entre os membros da família.
* A necessidade de um planejamento familiar é inquestionável, principalmente nos dias de hoje. Seus determinantes são de ordem econômico-financeira, enquanto o casal tem dificuldades em sustentar uma prole numerosa, o alto custo de vida e os baixos salários (quando não o desemprego) que a maioria da população recebe e que não permitem dar condignamente moradia, alimentação, educação e lazer para muitos filhos. Então a decisão é ter uma família pequena. Há também causas sociais, de saúde (por exemplo, doenças que não aconselham à mãe uma nova gestação) e até de ordem profissional dos cônjuges. Quanto à escolha de métodos para o planejamento familiar, cabe ao casal e não a um só dos dois a decisão. É necessária a consulta a pessoas competentes para obter as indicações mais seguras. Seja qual for o método empregado, devem ser respeitados os critérios de: a) Não atentar contra uma vida já concebida; b) Manter a dignidade dos cônjuges; c) Não ocasionar prejuízo grave à saúde e ao equilíbrio bio-psíquico dos cônjuges, nem servir simplesmente ao egoísmo de algum deles.
HOMOSSEXUALISMO
* Parece, fundamentalmente, que ninguém escolhe o homo ou heterossexualismo. A questão seria assumir-se ou não como homossexual. E esta é uma questão que depende da consciência da pessoa como indivíduo concreto. Numa cultura como a nossa, há muitos erros de julgamento, de juízos e de valor a respeito. Muitos julgam que os homossexuais são maus porque escolheram este tipo de comportamento. Há uma tendência geral à condenação, à danação, desde piadas até a idéia de confinamento. É o produto de uma sociedade excessivamente machista e sem educação. Numa sociedade séria, dever-se-ia estudar a questão, procurando ver se se trata de um problema biológico ou psicológico. Não se deve fazer piada com problemas humanos. Problemas humanos devem ser tratados entre grupos interdisciplinares e resolvidos de modo consciente com a dignidade das pessoas.
* Quanto à conduta moral, os seres humanos só podem ser julgados moralmente quando suas ações são livres e conscientes. Neste sentido, o comportamento dos homossexuais (uma vez que a homo ou heterossexualidade não dependem da liberdade) deve obedecer às normas comuns à heterossexualidade. E certamente uma atitude de repulsa e desprezo em relação aos homossexuais é imoral. Mas se o homossexualismo é fruto da liberdade, da escolha, o problema deve ser analisado também a partir deste ponto de vista.
AIDS
* O aidético tem que ser visto antes de tudo como pessoa humana, independentemente de aspectos morais ou religiosos. Ainda mais, é um ser humano que necessita de ajuda toda especial devido à característica de sua doença. Ele tem que sentir a presença amiga de pessoas que o querem bem, não apesar e nem por causa de sua doença, mas porque ele é gente como qualquer outra pessoa, porque o que o faz sofrer mais, além de sua situação orgânica, é a solidão, o distanciamento e o abandono dos outros. Esta solidariedade toca fundo no coração e pode ser praticada por qualquer pessoa, principalmente pelos parentes e amigos do paciente e pelos profissionais da saúde que cuidam dele.
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