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    sábado, 8 de agosto de 2020

    PELO DIREITO DE GOSTAR (OU NÃO) DE ROSA

    A cor rosa está diretamente ligada ao universo feminino, bem como o azul está ligado ao universo masculino, mas nem sempre foi assim. Hoje em dia, há até mesmo um preconceito envolvendo mulheres adultas que adotam o rosa como cor favorita. De onde vem o preconceito? Quando ele surgiu e como ganhou tanta força? Por qual motivo compramos um enxoval azul se engravidamos de um menino e um enxoval rosa se o bebê for uma menina?


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    No filme A Bela Adormecida (o clássico de 1959 da Disney), as boas fadas Flora e Primavera já discutiam entre si: o vestido será azul ou rosa?
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    A cor rosa não está ligada ao corpo feminino por alguma questão biológica, neurológica ou psicanalítica, bem como o azul não está ligado ao universo masculino por tais questões. Crianças com menos de dois anos preferem cores intensas e vibrantes, como vermelho e amarelo – e não cores suaves ou tons pastéis. Aliás, foi durante a Primeira Guerra Mundial que os tons pastéis começaram a ser introduzidos no universo infantil: antes disso, optava-se pelo branco (durante séculos, crianças de até seis anos de idade usaram vestidos brancos, porque o tecido branco era mais acessível, as fraldas eram trocadas com maior praticidade e a cor clara denunciava com precisão se os pequenos estavam ou não “sujos”). Além do mais, pasmem: naquela época, o rosa era ainda associado ao vermelho, e, consequentemente, ao universo masculino, por simbolizar força e vigor – a cor do sangue. O azul, tranquilo e delicado, era associado ao universo feminino.
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    Levou tempo para a sociedade digerir e aceitar a nova ditadura das cores. Uma matéria do ano de 1914 no jornal The Sunday Sentinel dizia para as mães: “o rosa para o menino e o azul para a menina, a serem seguidas as convenções”. Era comum que os bebês europeus fossem diferenciados por objetos e vestimentas em tons pastéis, porém, muitas vezes, não havia um padrão – enquanto na França usava-se azul para meninos e rosa para meninas, em países como a Alemanha e a Suíça o que ocorria era o contrário. Nos Estados Unidos, com o término da Segunda Guerra Mundial, a segregação que conhecemos começou a ser instaurada. Porém, no início, houve resistência: um grande número de lojas de departamento preferiu, por algum tempo, investir no rosa como “a cor dos meninos”.
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    Em 1918, a influente revista Ladies’ Home Journal publicou uma matéria que dizia: “A regra geralmente aceita é usar rosa para os meninos e azul para as meninas. A razão é que, sendo o rosa uma cor mais forte, denota pessoas decididas e com coragem, enquanto o azul, que é mais delicado e gracioso, é mais bonito para a menina”. A partir da década de oitenta, no entanto, os produtos em tons rosados foram definitivamente consolidados em prateleiras que continham objetos voltados para o consumo do público feminino – em todo o mundo. Para vender para meninas, bastava que desenvolvessem uma embalagem cor de rosa.
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    As roupas de gênero neutro foram muito populares até o ano de 1985 – depois disso, caíram em desuso. Logo os pais e mães não estariam comprando um macacão cor de rosa, estariam comprando um macacão cor de rosa com a figura de uma borboleta e alguns corações bordados; e também não estariam comprando um macacão azul, estariam comprando um macacão azul com a figura de um ursinho Teddy e uma bola de beisebol bordada. Nos dias de hoje, as persuasivas propagandas direcionadas para o público infantil também são encarregadas de reforçar ainda mais a dramática separação: de roupas até brinquedos, meninas são do rosa e meninos são do azul.
    Mas e se todos nós gostássemos de rosa, ao menos um pouquinho? Certo, talvez “gostar” seja demais para algumas pessoas, mas e se todos nós respeitássemos a cor e as imagens que ela evoca, ignorando os estereótipos ofensivos? A questão é que já não se trata apenas de uma cor, e sim de um universo: o universo feminino, que, por força de uma “convenção”, tornou-se intrinsecamente relacionado com a cor rosa.
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    Quando se é menina, criança, e o rosa torna-se uma espécie de “cor favorita”, mil maravilhas. Perfeito e conveniente para todos. Mas e quando a garota cresce e isso continua? E quando não largamos do rosa e partimos para o bege aos vinte anos? Oh, não, aí não é tão legal assim. E por quê? Bom, porque o rosa não apenas foi segregado, ele foi também associado aos mais variados (e desagradáveis) estereótipos, é claro: se uma mulher se veste de rosa em uma base diária e por vontade própria, ela não é vista como uma simples admiradora do rosa, e sim como uma “patricinha”: termo muito popular, usado para definir uma mulher de poder aquisitivo alto, esnobe, e, muitas vezes, desprovida de todo e qualquer bom senso.
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    Para completar, a cor adquiriu uma aura juvenil: há um momento no qual a jovem supostamente precisa “eliminar” o rosa de seu guarda roupas para começar a se vestir como uma mulher, porque rosa é a cor da vestimenta das meninas, e não das mulheres. Caso ela se recuse, será vítima de zombarias e dita “imatura”. Mas acontece que o rosa é uma cor como qualquer outra, e não uma chupeta ou mamadeira que precisa ser deixada de lado depois de certa idade.
    E, mais além, qual seria o problema, por exemplo, de uma pessoa gostar de determinado estilo musical e se vestir de rosa? Quer dizer que para apreciar música é necessário equipar-se com o devido aparato para tal atividade – que envolve um tipo de “uniforme” –, do contrário, nossos ouvidos e cérebros falharão e não seremos capazes de ouvir e interpretar o que estamos ouvindo?


    Se um homem gosta de rosa e tem uma coleção de camisas em diversos matizes da cor, ele certamente será visto como “esquisito” cedo ou tarde – talvez até mesmo por seus amigos próximos ou familiares, que não conseguem pensar além e concluir que ele simplesmente gosta muito de uma cor. Isso para não citar a fundo a delicada questão da “aparente ausência de masculinidade” – conceito que não passa de uma mera construção social, e, claro, é variável, já que uma demonstração máxima de masculinidade que é oriunda do Japão pode não significar absolutamente nada no Congo, e talvez signifique o contrário na França. O conceito de masculinidade esteve e está conectado com a ideia de poder e de autoridade: daí vem o fato de que um grande número de personagens da ficção que podem ser ditas como “independentes”, “poderosas” e “donas de si” possuem um ar que, evidentemente ou não, se distancia do que é esperado do universo feminino.
    A artista sul-coreana JeongMee Yoon criou um projeto fotográfico muitíssimo interessante que ilustra, por exemplo, o quanto a convenção do rosa e do azul influencia os gostos pessoais e os impulsos consumistas de crianças a redor do globo.
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    Ela nomeou o trabalho de “The Pink and Blue Project”. Segundo a artista, fatores como grupos étnicos distintos, classes sociais distintas e hábitos culturais divergentes não mais influenciam nas preferências das crianças que nasceram após a “padronização” normativa das cores para os gêneros. Ela afirma ainda que, em termos de objetos infantis, há a predominância de tons de rosa, roxo e vermelho em brinquedos relacionados com o universo da culinária, da moda, das tarefas domésticas e dos contos de fada; enquanto isso, os brinquedos que são voltados para a construção, a ciência, a robótica e o universo policial são azuis.
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    Esta é uma oportunidade para que se pense fora da caixa – do inglês, “think outside the box”, o que significa que você deve abandonar os conhecimentos prévios a respeito de um tema e pensar nas possibilidades que estão além do reino do que já é conhecido e esperado. Pense além. A atual necessidade de desconstruir o que temos como “fixo” em termos de gênero se faz imediata: precisamos nos livrar do preconceito, do estranhamento e dos julgamentos para, enfim, vivermos em uma sociedade mais justa e tolerante.

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